O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é gerador de enormes sofrimentos para aqueles que são acometidos, entretanto, seus familiares e amigos também sofrem. A pessoa acometida com este transtorno é cercada de pensamentos obsessivos sufocantes e completamente insuportáveis, que só são aliviados com rituais compulsivos. Estes podem ser coisas como: conferir se todas as trancas da casa foram fechadas, limpar uma superfície, lavar as mãos, banhar-se diversas vezes por dia.
A grande questão é que algumas pessoas que estão adoecidas com o TOC aparentam seu sofrimento com os rituais que levam tempo e muito esforço. Com isso, muitos familiares se sentem compelidos a ajudar, a facilitar as vidas dessas pessoas e começam a fazer parte desses rituais. Isso acaba gerando muito estresse, sobrecarga, ansiedade e falta de paciência. A esse fenômeno chamamos de Acomodação Familiar.
O que acontece é que quando tentamos fazer parte desses rituais para atenuar o sofrimento, na realidade, estamos afirmando ainda mais que eles são necessários e reforçando o pensamento disfuncional do TOC.
Então, o que fazer? Aqui eu vou te dar algumas dicas simples para lidar com a situação.
1. Não faça parte dos rituais compulsivos.
Às vezes é extremamente complicado esperar que uma pessoa com o TOC faça todos os seus rituais e, então, buscamos apressar as coisas, atenuar isso. O que acontece, então, que de forma involuntária o indivíduo com o transtorno pode aumentar os rituais colocando o facilitador como parte deles. Então, seja firme e diga não ao seu impulso de ajudar.
2. Questione.
A necessidade de firmeza não te dá a chance de ser cruel e muito menos a chance de soltar a mão de uma pessoa em sofrimento. Entenda que por mais que você não vá participar, não vá facilitar os rituais, não quer dizer que vai se abster de ajudar essa pessoa. Proponha a ela uma contestação realista sobre os rituais. "O que de tão ruim vai acontecer se você não fizer isso só dessa vez?"
3. Seja empático e paciente.
Não vai ser do dia para a noite que a pessoa vai deixar de fazer os rituais. Haverão recaídas e momentos que os pensamentos disfuncionais do transtorno vencerão seu parente. Isso não quer dizer que ele é incapaz, burro ou que nunca aprende. Quer dizer que ele está tão enraizado em padrões de fuga de seu desconforto que a tolerância a esse tipo de mal estar é baixíssima. Apenas com paciência e celebrando vitórias pequenas é que vamos encontrar a saída. Então que tal dizer algo como "Estou orgulhoso que você tentou. Amanhã é um dia excelente para a gente tentar de novo."
4. Ofereça trocas factíveis.
Sozinha a pessoa não vai deixar os rituais. Então que tal oferecer coisas para que essa pessoa tente quebrar sua rotina. "Se você fizer do meu jeito dessa vez, e eu estiver certo, prometo que eu faço aquela sua comida favorita. Mas se você estiver certo sobre algo de ruim acontecer, eu paro de te encher." É importante destacar que o objetivo não são as trocas, mas fazer com que a pessoa experimente o fato de que seus rituais não são tão eficazes no mundo real e que a catástrofe que ele está tentando evitar, provavelmente, não tem fundamento algum com a realidade. As trocas vão ser apenas um modo que você terá para convencer seu parente a, de vez em quando, desafiar os pensamentos e ordens do transtorno.
5. Procure ajuda especializada pra você e para seu parente.
Talvez ao ler até aqui, tenha se identificado com tudo o que foi dito. Você já perdeu a paciência ou já está tão entranhado nos rituais compulsivos que já se pegou se questionando se você tem o transtorno. Talvez, de tanto tentar mostrar para seu parente que as coisas que ele faz não tem sentido, você esteja se sentindo inútil, incapaz e até sem forças. É possível, também, que você esteja sentindo-se cansado, sobrecarregado e completamente sozinho.
Mas deixa eu te dizer algo: a terapia mais eficaz para o TOC é aquela que acolhe e confronta empaticamente o adoecido (e combina de forma eficaz a medicação necessária), mas que instrui e ajuda a família a lidar com o parente desfazendo o fenômeno que é chamado de acomodação familiar.
Você não está sozinho!
Luciana Cristina Gomes
Psicóloga - CRP 18/06236
Cel. (65) 99800-5580
Instagram: @psicolully
Link do perfil Terappia: (Luciana Cristina Gomes)
excelente, Luciana.
Vou ver se consigo ajudar minha filha de 12 anos, que percebi esta semana.
Ex. Pega a caneca de leite, quando vai devolver a mesa, bate umas 3 a quatro vezes antes de deixa-la.
Acredito que seja esse distúrbio. Com suas dicas vou tentar ajuda-la. Deus abençoe.
Excelente artigo Luciana!