Hábitos Alimentares e “fome emocional”
Você já parou para pensar a respeito dos hábitos alimentares e sobre “fome emocional”?
Em muitas situações, é comum ouvir comentários como: “(...) quando estou ansiosa, eu como de maneira exagerada.” Ou, “(...) não posso ver um chocolate por perto e não me contento apenas com um pedaço, quando percebo, já comi a barra inteira em um intervalo de tempo muito curto. Chego a ser mal-educada.” E, também, “(...) Nossa! Comer é a melhor coisa da vida, é simplesmente um prazer! Como para relaxar." Esses são alguns exemplos do que se denomina compulsão alimentar.
O que é compulsão alimentar?
A compulsão alimentar é mais comum do que se imagina. Trata-se de uma alteração do comportamento alimentar em relação à comida, caracterizada pela falta de controle sobre o que se come ou do momento em que se deve comer. Tem, entre os principais aspectos, o comer até se sentir empanzinado já que exagera na quantidade de comida. Muitas vezes, come depressa sem sequer saborear o alimento.
Esse quadro é considerado um transtorno alimentar e é causado por “n” estímulos que reforçam o comportamento “comer”, uma vez que tem por trás de si, o prazer como forma de regular algum evento ou situação que cause um desconforto. Normalmente, a compulsão alimentar está ligada aos transtornos psicoemocionais.
O que causa a compulsão alimentar?
Desde a infância, uma pessoa pode ser estimulada a comer para aliviar algum tipo de sofrimento, ou mesmo, para se sentir alegre. Nesse sentido, diz-se que a pessoa está sendo estimulada a desenvolver uma “fome emocional”. Ou seja, desde pequena aprende a regular as suas emoções a partir da ingestão de alimentos. Isso pode ocorrer, na maioria das vezes, porque o cuidador quer se livrar de algum tipo de apelo por parte da criança, ou por se sentir culpado em negar o que é pedido. E assim, a criança cresce habituada a beliscar o tempo todo, e, na quantidade desejada, o que bem entende.
As causas que levam à compulsão alimentar são variadas e cada pessoa terá a sua própria forma individual de processá-la. Todavia, algumas costumam chamar mais a atenção, entre elas a baixa autoestima e a ansiedade. A baixa autoestima frequentemente está relacionada à compulsão alimentar quando a pessoa, por exemplo, está acima do peso para o padrão esperado para a sua idade e a causa seria a ingestão excessiva de alimento que contribui para o sobrepeso. Na ansiedade, por sua vez, a pessoa é levada, mesmo sem fome, a comer rápida e exageradamente como uma saída para aliviar o sintoma.
A cultura é outra variável que contribui para que a alimentação seja relacionada a situações prazerosas. Desde cedo, aprende-se que uma comemoração deve ser feita com comes e bebes. Nesse sentido, tem-se aqui a associação estabelecida entre prazer, felicidade e a comida. Ou seja, comer passa a significar felicidade. E essa relação é reforçada continuamente, seja em propagandas e publicidade, seja nos encontros sociais.
Teria alguma coisa de errado nisso? Não. O que teria é a oferta de alimentos não saudáveis.
A maioria das pessoas não sabe o que levar em conta na hora de escolher o alimento que fará parte de sua rotina, assim como, quais seriam as propriedades nutricionais de cada tipo de alimento para que sejam escolhidos de modo que atendam às necessidades nutricionais do corpo. E, assim sendo, acabam fazendo escolhas por alimentos que desconsideram as regras para uma alimentação saudável.
Nesse sentido, consultar um nutricionista poderá contribuir para que ajustes em sua rotina alimentar seja feita conforme as necessidades nutricionais do organismo. Isso previne ou trata consequências a curto, médio ou longo prazo como sobrepeso, desnutrição e, até mesmo, o desenvolvimento de doenças relacionadas ao déficit nutricional.
As consequências advindas de uma compulsão alimentar não somente podem levar ao agravamento dos transtornos psicológicos e ou ser causados por eles, mas também levam à obesidade, aos distúrbios hormonais, aos problemas respiratórios, à impotência, ao diabetes, à gastrite, à úlcera, às doenças cardiovasculares, ao colesterol alto e outras tantas.
E, quando o nutricionista já foi consultado, e até mesmo atividades físicas fazem parte da rotina de uma pessoa, mas o problema tem por trás de si os fatores emocionais?
Aí seria o momento de buscar a psicoterapia. E que bom que uma rotina de atividades físicas esteja incluída no seu dia, pois elas também contribuem para que o corpo se mantenha forte e capaz de lidar com as tarefas do dia a dia.
Embora existam outros quadros que podem desencadear a compulsão alimentar, entre os quais o medo, a fobia, a sensação de tristeza, a depressão, outros fatores psicológicos devem ser investigados para que a pessoa encontre maneiras mais saudáveis de lidar com aquilo que a deixa mal.
Quem nunca fez um exame de sangue, cujo resultado a partir do qual o médico instruiu o paciente a rever os hábitos alimentares para impedir o desenvolvimento ou o agravamento de algum quadro clínico e acabou por indicar uma consulta ou acompanhamento psicológico?
É possível desenvolver habilidades psicológicas para lidar com a compulsão alimentar?
Sim!
Dentre as habilidades a serem desenvolvidas estão: aprender a programar e organizar sua rotina alimentar para evitar comer em excesso dentro e fora de casa; estabelecer uma rede de apoio com familiares e outros relacionamentos; administrar de forma saudável suas questões emocionais; encontrar diversões mais saudáveis que possam substituir sua relação com a comida; aprender a gostar mais do seu corpo; aprender a lidar com a pressão social e críticas quando estiver se envolvendo com a reeducação alimentar.
Conscientizar-se, o mais precocemente, sobre o que está acontecendo consigo, é priorizar a sua saúde mental. Poder contar, o mais precocemente, com o acompanhamento médico, suporte social, emocional, nutricional, familiar e psicoterapêutico poderá levá-lo a alcançar um resultado mais completo em sua recuperação.
A psicoeducação tem como papel alertar o indivíduo para que ele aprenda a prestar mais atenção em si mesmo a fim de que consiga manter-se saudável. Os cuidados com a sua saúde é uma maneira de manter-se em condições de agir de forma independente e seguir com sua vida de maneira mais autônoma. Por isso, se perceber ou conhecer alguém que precisa de ajuda, procure por um profissional da saúde.
Ustane Moreira
Psicóloga: CRP 04/14.823
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