Por que falar sobre hábitos? Quando pensar na mudança de um?
Inicialmente, porque são os hábitos os responsáveis por moldar parte da personalidade de uma pessoa e a relação que esta tem com o mundo, além de permitir identificar o modo como elas serão vistas e reconhecidas.
A formação de hábitos é algo comum a qualquer pessoa e ocorre, muitas vezes, sem que seja possível dar-se conta e tem a ver com as atitudes frequentes nos comportamentos do dia a dia. Mas também, os hábitos podem ser formados a partir de uma escolha, de uma imitação ou, até mesmo, por necessidade.
Você disse “por imitação” ou “sem que seja possível dar-se conta”?
Sim!
Veja bem!
Os hábitos são considerados estruturas com raízes profundas, que moldam o comportamento de uma pessoa ao longo de sua existência. Estas estruturas vão se formando a partir dos valores contidos no contexto cultural onde o indivíduo está inserido, a partir do simbolismo advindo de memórias afetivas que vão sendo estabelecidas e correlacionadas com experiências e vivências aos quais são submetidos. Ou seja, um hábito expressa um comportamento que nasceu com a pessoa, mas que não foi formado ao acaso e, para mudá-lo, exige-se persistência e constância, e, principalmente, reconhecer que ele existe e que precisa ser modificado.
Mas por que devo pensar em mudanças de hábito?
Porque alguns hábitos tendem a nos conduzir a comportamentos disfuncionais que impactam diretamente na qualidade de vida e acabam por levar uma pessoa a apresentar queixas como dificuldades de atenção, concentração, memória fraca, sensação de agitação, dificuldades para dormir, entre outros sintomas, aos quais o indivíduo não percebe e nem se dá conta de que a eles podem estar atrelados.
Lembrando aqui, que esses sintomas também podem aparecer em algumas doenças a serem tratadas como depressão, ansiedade, transtorno de déficit de atenção (com ou sem hiperatividade) e outros. Mas hábitos disfuncionais como não dormir bem, sentir-se constantemente estressado, uso de drogas, ambientes hostis, não praticar atividades físicas e mentais, alimentação não saudável, esquecer-se de beber água, entre outros, tendem a exacerbá-los.
Por isso recomenda-se muito determinadas mudanças de hábitos quando se quer atingir um certo objetivo que pode ser o de tratar uma doença ou mudar uma rotina qualquer.
Só que isso não é fácil de ser feito, não é?
Verdade!
Nossa mente tende a buscar constantemente a zona de conforto. As pessoas tendem a se guiar pela lei do menor esforço, seja automatizando a funções do dia a dia, seja deixando de pensar em sair dessa zona porque isso implicaria em uma mudança em sua vida, mudança essa que poderia implicar em deixar de lado um comportamento com o qual sabe lidar e já se acostumou às consequências advindas deste, mesmo que essa consequência implique em adoecimento. Você já escutou pessoas dizendo assim: "(...) eu sempre fui assim, por que eu mudaria agora? Já me acostumei.
Mas você disse anteriormente que a pessoa pode não estar ciente de que o seu comportamento o adoece.
Isso mesmo!
Porém, como não está claro para ele que uma mudança comportamental poderia ajudá-lo, ele assume para si a resistência à mudança e opta por não experimentar uma transformação consciente em sua vida. Por isso, anteriormente foi dito que para uma mudança ocorrer, é preciso admitir que há um comportamento disfuncional acontecendo. E é interessante que se faça uma investigação nesse sentido. Há um hábito sendo executado todos os dias que, sem que se dê conta, está prejudicando o indivíduo.
Como eu vou saber que hábitos bons e ruins são estes que devo preservar ou mudar e que tanto beneficiam ou prejudicam?
Aprendendo a si conhecer, a si autoconhecer. Você pode começar a prestar atenção em si mesma(o), às reações que o seu corpo dispara quando está diante de um dado ambiente, aos sentimentos desencadeados e ao comportamento que tende a apresentar para lidar naquele momento.
Não é tão simples como parece!
Não!
Não é! Pois requer ter disposição para voltar a atenção para si para ser capaz de dar conta do que de fato está acontecendo.
Quando se trata de saúde mental, o que mais se fala é em adotar um estilo de vida saudável, que entre outras atitudes comportamentais a serem levadas em conta, é o de introduzir hábitos saudáveis como: fazer as atividades físicas de que goste – por exemplo, yoga, pilates, academia, caminhada, corrida, bicicleta etc, – alimentar-se adequadamente prestando atenção à ingestão adequada aos nutrientes de que o seu corpo necessita, reservar um horário para o lazer, dormir no mesmo horário todos os dias, relacionar-se com pessoas que querem o seu bem.
Nossa! Estou cansada de ouvir sempre as mesmas indicações para se alcançar o bem-estar emocional. Principalmente, quando se trata de atividades físicas.
Mas e se eu não me preocupo tanto assim com a estética do meu corpo?
Mas estes hábitos não têm a ver especificamente com a ideia de alcançar um desenho bonito para o corpo, isso é apenas a consequência da alimentação adequada e da atividade física regular. Você já tinha parado para pensar a partir desse prisma? Já parou para pensar por que você escova os dentes e os cabelos todos os dias? Para não ter cárie e o cabelo não ficar embaraçado, poderia ser a resposta. Mas o resultado é que acaba por apresentar um belo sorriso e uma aparência mais cuidada.
Assim como cuidar do corpo, a mente também se beneficia de novos aprendizados. E o autoconhecimento o ajuda a entender que hábitos estão sendo ou não benéficos para que alcance o seu equilíbrio e bem-estar emocional. A psicoeducação deve fazer parte da vida de qualquer um. E se conhecer é o primeiro passo para fazer escolhas acertadas e ideais para você. Lembre-se de consultar um profissional da saúde sempre que perceber que não está dando conta sozinho de entender o que está acontecendo com você.
Referência: TELES, Dr. Leandro. Antes que eu me esqueça. Editora Alaúde, 2016
Ustane Moreira
Psicóloga: CRP 04/14.823
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