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Não seria melhor arriscar?

Foto do escritor: Hemerson Carlos RochaHemerson Carlos Rocha


Sabe aquele momento em que você se depara com uma situação que demanda escolhas difíceis? Geralmente, são situações angustiantes que podem nos paralisar, nos acomodar ou nos fazer escolher deixar tudo como está. Porque a escolha anuncia o risco de desorganizar tudo. E geralmente não queremos o trabalho árduo exigido pela desorganização.


Um personagem de um livro que eu gosto muito sempre repete uma expressão que desde que li não sai da minha cabeça. É dessas frases que nunca sei o que as pessoas compreendem, mas que com certeza diz alguma coisa pra todos. É Riobaldo, de Grande Sertão: Veredas, que diz: “Viver é muito perigoso!”


Guimarães Rosa, o autor do livro, é realmente brilhante. Construiu uma trama magnifica, mas que não poupa o esforço do leitor. É que pra contar uma boa história é preciso assumir a tarefa árdua de organizar a narrativa com um estilo a altura daquilo que foi vivido. Dá trabalho pra dizer o que aconteceu se o que aconteceu foi singular, se a experiência foi marcada por veredas como as do sertão rosiano: cheias de encruzilhadas. Mas são nesses tênues canais onde podemos ter a chance de compreender algo desse “sertão” cuja realidade é confusa, tumultuosa e marcada pelo caos.


“Ah, tem uma repetição, que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso as coisas — e no meio da travessia não vejo! — só estava era entretido na ideia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais em baixo, bem diverso do que em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?”


E isso tem relação com a arte do verdadeiro encontro. Aceitar o risco de se deparar com cenários inesperados, imprevisíveis e inusitados. E lidar com a angústia que decorre daí, da falta de certezas. Em alguns momentos é realmente preciso se apegar ao desejo para se jogar, se lançar…


Sim, Riobaldo, viver é sim muito perigoso! Por outro lado, é também uma aventura cheia de surpresas e descobertas. A pergunta que sempre é necessário ser feita é: por que abrimos mão delas?


Hemerson Carlos Rocha — Psicólogo e Psicanalista

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