Bullying na Perspectiva Psicanalítica: Uma Reflexão Sobre Quem Pratica e Quem Sofre
O bullying é um fenômeno que envolve práticas de violência psicológica, física ou verbal, frequentemente repetitivas e intencionais, exercidas em um contexto de desequilíbrio de poder. Sob a lente da psicanálise, ele pode ser compreendido a partir das dinâmicas inconscientes que influenciam o comportamento tanto de quem o pratica quanto de quem o sofre.
O Agressor: Projeção e Defesa do Ego
De acordo com Freud, o ego utiliza mecanismos de defesa para lidar com conflitos internos e ansiedades. No caso do agressor, o bullying pode ser uma forma de projeção, onde aspectos indesejados de si mesmo são atribuídos à vítima. Além disso, o comportamento agressivo pode ser uma tentativa de compensar sentimentos de inferioridade ou de buscar reconhecimento e poder, elementos que, muitas vezes, faltam em sua própria estrutura psíquica (Freud, 1923/1996).
Como afirma Winnicott, "a agressividade é uma tentativa de expressar algo que o ambiente não acolheu" (Winnicott, 1967). Assim, o agressor pode estar reagindo a um ambiente familiar desestruturado ou a uma falha no cuidado parental.
A Vítima: Superego e Identificação
A vítima, por sua vez, frequentemente internaliza o sofrimento causado pelo bullying, o que pode gerar um conflito intenso com o superego, levando a sentimentos de culpa e inferioridade. Segundo Freud, o superego é moldado pela introjeção de figuras de autoridade e, em casos de bullying, pode atuar de forma rígida, reforçando uma autoimagem fragilizada (Freud, 1933/1996).
Ainda, Ferenczi sugere que vítimas de abuso podem desenvolver uma identificação com o agressor, reproduzindo inconscientemente os padrões de submissão ou até de violência (Ferenczi, 1932). Isso pode resultar em dificuldades de relacionamento no futuro.
A Relação com o Ambiente
A psicanálise também nos alerta para o papel do ambiente. Segundo Winnicott (1965), um ambiente suficientemente bom é essencial para o desenvolvimento saudável da criança. Quando o ambiente falha, seja na família ou na escola, pode favorecer a perpetuação do bullying.
Conclusão
O bullying é uma manifestação complexa de conflitos intrapsíquicos e sociais. A psicanálise oferece uma compreensão profunda das motivações inconscientes de quem pratica e de quem sofre, destacando a importância de intervenções que trabalhem não apenas os sintomas, mas também as causas subjacentes.
Referências Bibliográficas
Freud, S. (1996). O Ego e o Id. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. XIX. Imago.
Freud, S. (1996). Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. XXII. Imago.
Winnicott, D. W. (1965). O Ambiente e os Processos de Maturação. Karnac Books.
Winnicott, D. W. (1967). O Papel de Espelho da Mãe e da Família no Desenvolvimento Infantil. Karnac Books.
Ferenczi, S. (1932). Confusão de Línguas entre Adultos e Crianças: O Idioma da Ternura e da Paixão.
Se precisar de acompanhamento psicológico, procure um profissional. Cuidar da saúde emocional é essencial!
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