top of page
Foto do escritorRaísa Suzuki

Sobre transtornos de humor. Foco: a bipolaridade. (Parte III)

Atualizado: 11 de ago.


Vamos continuar nossa trilha de conhecimento...


Por que o lítio é tão importante dentro do tratamento da bipolaridade?


Foi uma revelação, está na tabela periódica, é o número 3, um sal. Ele é retirado da própria terra, tiramos ele do nosso corpo, na bateria de carros elétricos. Os principais lugares onde existe o lítio é na América do Sul: Deserto do Atacama, Chile, Sul da Bolívia. Mas vai acabar o lítio? Não! Há estoque para muitas centenas de anos.


Já havia descrição do uso do lítio em 1850-1890. Mas era utilizado de maneira pontual nos EUA e na Inglaterra, por um ou outro médico, e, como não havia Internet, não havia troca de informações e ninguém trazia nada para o corpo científico o uso do lítio.


1949 – O erro que deu certo

Um médico australiano achava que as pessoas ficavam agitadas porque tinham acúmulo de ureia no corpo. Ele injetou lítio nos ratos e percebeu como eles ficaram mis calmos. O médico injetou nele mesmo e, depois, em seis pacientes. Os pacientes melhoraram muito, ao ponto de poderem voltar às suas casas. Agora, não era mais como na época do Kraepelin, onde as pessoas eram internadas e não podiam sair mais para o resto da vida. Agora havia medicação para as pessoas conseguirem uma vida fora da clínica.

Porém o que começou a ocorrer: algumas pessoas que tomavam lítio, começaram a morrer. O nível de toxicidade do lítio tem que ser controlado, a dosagem nele no sangue. Atualmente seguimos o seguinte protocolo:

1)      Exame de sangue a cada 2 meses;

2)      Exame de sangue a cada 6 meses;

3)      Investigar sempre função renal e da tireoide.


Desta forma, é seguro utilizar o lítio.  20% das pessoas têm bons resultados apenas com o lítio, então vale a pena tentar essa forma pelo menos uma vez no consultório, para ver se temos uma boa resposta à esta monoterapia. Os outros 40% terá que misturar outras medicações para termos bons resultados.

Como o lítio é um sal, encontrado na natureza, não pode ser patenteado, ou seja, não há milhões de dólares sendo investidos nele como em outras medicações. Porém, ele é tão eficiente, que está há anos ajudando as pessoas.

Quanto antes você administra o lítio no indivíduo, mais ele trará benefícios, por exemplo (menos que 10 episódios de humor), maior que isso, o lítio vai parando de fazer tanto efeito. Neste caso, deve ser usado o Depakote. Outro motivo para não ser utilizado o lítio, pois não será eficaz, é se a pessoa cicla muito e/ou tem muitos episódios mistos). O lítio também tem uma função intracelular que diminui o risco de suicídio.


Há dois grandes grupos de estabilizantes de humor:

1)      Lítio;


2)      Anticonvulsionantes (Depakote, por exemplo);

3)      Antipsicóticos (Quetiapina, por exemplo);

4)      Antidepressivos (Controvérsia na convenção médica) – não pode ser utilizado isoladamente, apenas em conjunto com estabilizante de humor com função antimaníaca).


Neuroplasticidade = cada vez que você não se medica ou não faz a terapia corretamente, destrói uma parte neuronal funcionante que será adaptada pelas células remanescentes. Além disso, claro, você necessita de toda a estrutura de um bom tratamento para a bipolaridade:


1)      Psicoterapia;

2)      Atividade Física;

3)      Dormir regularmente (7 a 9h por dia)

4)      Ir dormir antes das 23 horas;

5)      Alimentação Saudável;

6)      Controlar estresse (isso ajuda com a terapia);

7)      Diagnóstico adequado (para que esteja utilizando medicamentos corretos).


Bipolaridade e o Círculo Circadiano (dormir, acordar, estar alerta, libido, apetite, etc.)


Os 226 genes que já vimos que afetam as pessoas com bipolaridade também alteram esse Círculo. O lítio, por exemplo, desacelera o ritmo circadiano.

 O ritmo circadiano pode ser definido como o mecanismo de adaptação do organismo aos períodos de luz (dia) e escuridão (noite), totalizando um ciclo em 24 horas. É como se fosse o nosso relógio interno.


Ele regula as funções do corpo para que ele possa tirar o melhor proveito do dia (e da noite). É ele quem regula o sono, a temperatura corporal, entre outras funções, para que seja possível encarar o dia e todos os seus desafios. Se você sente sono todos os dias no mesmo horário, então você sabe, na prática, o que é o ritmo circadiano.


Apesar de parecer algo exato, o ciclo circadiano não é o mesmo em todas as pessoas. Algumas pessoas têm mais disposição durante o dia, enquanto outras têm mais disposição à noite, e o ciclo circadiano é o responsável por isso.

Em pessoas com transtorno bipolar, o ciclo circadiano parece sofrer alterações que envolvem trocas e arritmias (falta de um ritmo conciso). Pesquisas indicam que existe a possibilidade de haver uma relação causal entre o ritmo circadiano alterado e episódios de humor.


Não raramente, pessoas com transtorno bipolar estão mais dispostas para realizar atividades no período da noite, fenômeno chamado de “pessoas noturnas”, em oposição às “pessoas diurnas” que se encontram mais dispostas para realizar atividades durante o dia. Mesmo quando não há um episódio de humor, essa tendência de fazer as coisas durante a noite se mantém.  

O problema é que, em pacientes com transtorno bipolar, estes hábitos noturnos estão relacionados a uma dificuldade de remissão, resposta ruim ao tratamento para depressão, ciclagem (mudança entre episódios de humor) mais rápida e um funcionamento prejudicado em geral.

 

Estudos realizados em pessoas sem TAB mostram que pessoas noturnas têm maiores chances de sofrer depressão, além de estarem mais propensas a comportamentos suicidas violentos. Os hábitos noturnos são indicadores de uma tendência a comportamentos de risco, especialmente suicidas.  

Um outro estudo mais recente mostra que essas descobertas se mantém verdadeiras no caso de pessoas com transtorno bipolar. A presença de um padrão noturno está significativamente associada a ideação e comportamento suicida.

 

Em comparação às pessoas diurnas, as pessoas noturnas têm uma tendência maior de agir de forma não conformista e independente, além de terem mais chances de manifestar comportamentos violentos direcionados a si mesmas.

Em um estudo, pacientes com transtorno bipolar passaram uma noite sem dormir e, na noite seguinte, puderam dormir a noite inteira ou receberam medicação para regular o humor. Cerca de 4,85% desses pacientes desenvolveram sintomas de um episódio de mania logo em seguida, enquanto 5,83% tiveram sintomas de hipomania.

 

Isso indica que a privação do sono tenha alguma influência na manifestação de um episódio de humor, podendo ser uma espécie de gatilho para uma recaída. 

De fato, mesmo utilizando a medicação e seguindo a terapia corretamente, pacientes com TAB têm chances relativamente altas de uma recaída em um tempo de 5 anos após o último episódio de humor.

Suspeita-se que o sono tenha alguma influência neste processo, uma vez que um ciclo circadiano desregulado está fortemente associado ao transtorno bipolar.

 

Existem evidências de que problemas para dormir podem indicar o desenvolvimento de transtorno afetivo bipolar em pessoas que são mais suscetíveis. Filhos de pais com TAB, por exemplo, podem ter perturbações de sono cerca de 1 ano antes do transtorno se manifestar no indivíduo. Desta forma, quando combinados com outros fatores de risco, os problemas para dormir poderiam “prever” o desenvolvimento do transtorno.

 

Certos problemas para dormir também podem, algumas vezes, prever a vinda de um episódio, podendo indicar até mesmo o tipo de episódio que irá ocorrer.

Uma menor necessidade de dormir pode antecipar um episódio de mania, enquanto insônia pode antecipar tanto episódios de mania quanto de depressão. Já a hipersonia (dormir mais do que o normal) costuma antecipar episódio depressivos.

 

Como dito anteriormente, o sono é afetado mesmo nos períodos entre episódios. No entanto, logo antes de um episódio, as perturbações do sono se tornam mais intensas e são ainda piores enquanto dura o episódio.  

Por conta da forte associação dessas alterações no sono com o início de episódios, é possível que haja uma relação causal entre essas duas variáveis, especialmente por conta da forte relação que o TAB tem com um ritmo circadiano desregulado. No entanto, mais estudos são necessários para provar e explicar essa relação.


A ideação suicida é um sintoma frequente em episódios depressivos, mas pode estar presente também em períodos entre episódios ou em períodos de remissão. Estudos mostram que o sono tem um grande papel na ideação suicida, mesmo quando não há um episódio de humor.

Existe uma associação significativa entre ideação/comportamento suicida e acordar no meio da noite ou antes do esperado, ter sonhos ruins ou pesadelos e sentir dores durante a noite. Além disso, histórico de tentativas de suicídio e a quantidade de tentativas estão relacionadas a uma maior frequência de sonhos ruins/pesadelos.

 

Pesquisas revelam que, em pacientes com TAB, há uma relação entre ideação suicida, ritmo circadiano (pessoas noturnas vs. pessoas diurnas), qualidade do sono e sonolência durante o dia.

Da mesma maneira, pensamentos suicidas estão relacionados a dificuldades para dormir e sensação de cansaço durante o dia, mas ainda não se pode dizer que um causa o outro e vice-versa.


 

Como foi possível ver, o sono sofre muitas alterações em pessoas que convivem com o transtorno bipolar. Além disso, alterações no sono podem servir de ajuda para identificar a vinda de episódios de humor, mesmo que elas ocorram meses antes do início do episódio.

Sabendo da influência do sono no transtorno bipolar, tratamentos focados em auxiliar na regulação do ciclo circadiano (e consequentemente nos padrões de sono) podem ajudar na melhora dos sintomas do transtorno afetivo bipolar, bem como prevenir recaídas.

 

Neste sentido, o tratamento farmacológico e a psicoterapia podem trabalhar juntos para melhorar os hábitos de sono do paciente com transtorno bipolar.

 

Além disso, outras terapias relacionadas ao sono podem ser aplicadas a fim de melhorar os sintomas dos episódios de humor, como terapias de luz ou até mesmo utilizar a privação de sono pelo seu efeito terapêutico em episódio depressivos.


Há pessoas com mudanças de humor somente com as mudanças de temperatura ou de estação do ano. (Inverno – Depressão, por exemplo).

O correto é se expor ao sol de manhã pelo menos 2 horas, depois ao final do dia, mais 2 horas, não se expor à luz azul dos aparelhos celulares Além de alimentar-se bem e realizar atividade física (de preferência pela manhã).

Todas essas recomendações valem para que o núcleo supraquiasmático, fique saudável, já que ele gere todo o círculo circadiano.



Obrigada por ter chegado até aqui e também ser um apaixonado ou apaixonada pela Psicologia!


Até breve! 😊

Raísa Suzuki

CRP-06/138639



Telefone e WhatsApp para contato: (11) 9 7210 5643




9 visualizações0 comentário

Posts Relacionados

Ver tudo

Comments


bottom of page