A psicanálise não se debruça a estudar a solidão, propriamente dita, mas seria salutar, compreendermos que, para a mesma, a solidão tem um caráter polissêmico, ou seja, reúne vários significados, encarando-a como afeto inato e até mesmo, imprescindível ao processo de subjetivação dos sujeitos. Mas, em hipótese alguma, aqui, se apoia, como premissa o isolamento social, nem tão pouco que não devamos buscar alargar nossas teias de relacionamentos com a sociedade.
Mas pensemos tambem, no porque as pessoas devem ser, todas, bem relacionadas socialmente, amigáveis, populares, rodeadas por outras pessoas o tempo todo?
Enquanto a solidão marginaliza, e é considerada um mecanismo de defesa (é notório observarmos uma tendência para o recolhimento e fuga quando somos criticados, atacados, ameaçados, intimados e ridicularizados), a prática da psicanálise favorece, e muito, os vínculos sociais e afetivos auxiliando o indivíduo na sua dor, transformando e reconstruindo, na relação com o seu analista, maneiras de dominar a solidão.
Para Winnicott, “a capacidade do indivíduo de ficar só (…) é um dos sinais mais importantes do amadurecimento do desenvolvimento emocional”. Em sua obra “A capacidade para estar só” nos traz que, ao longo das suas diferentes fases da vida e ao longo do seu caminhar maturacional em busca da sua individualidade a possibilidade do indivíduo adquirir uma capacidade de estar só, dependerá sobremaneira da presença de um ambiente suficientemente fortalecido para suportar que ele se diferencie, sem riscos de ruptura abrupta e solitária. Porém, sabemos que, esta capacidade só se torna possível a partir do momento em que a presença do objeto ausente já está internalizada em seu consciente.
Artigo "Quando a solidão não é apenas estar só"
E para Lacan.. O sentimento de solidão parece ser um intervalo entre os discursos sociais que engolem o sujeito e que impõe a necessidade de sermos felizes e sociáveis. Porque vemos a solidão, como um mal que deva ser subtraído. (Lacan, 1964). Em alguns casos, o se sentir só é um escape da singularidade. O ideal de não-dependência, ou, mais exatamente, de uma espécie de profilaxia da dependência.
(Lacan, 1959-60, pp. 21)
A solidão não é apenas o refúgio em um mundo próprio, uma fuga do desprazer, ou uma faceta do individualismo e da indiferença ao outro. Saber ser solitário é não ceder aos ideais civilizatórios contemporâneos, o fragmento de independência e originalidade.
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Ana Clara Damasceno
Psicóloga- CRP 06/181018
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