
Nem todo sofrimento grita. Na maioria das vezes, ele aparece em forma de pequenos ruídos no cotidiano: uma irritação constante, um cansaço que não passa, uma perda de interesse que chega devagar e vai ficando, ocupando espaços antes cheios de desejo.
Há formas de dor que se camuflam tão bem no ritmo acelerado da vida que passam despercebidas. São os chamados “sintomas silenciosos”. Não porque não causem incômodo, mas porque muitas vezes são ignorados, minimizados ou até naturalizados. Afinal, quem hoje em dia não está exausto, ansioso, desmotivado?
Mas quando o mal-estar se instala e não encontra espaço para ser dito, ele insiste. Pode aparecer no corpo — em forma de insônia, dores, crises de ansiedade — ou nos relacionamentos, onde o outro vira alvo daquilo que o sujeito não consegue elaborar em si. Pode surgir também como apatia, como uma dificuldade de se mover em direção a algo, como uma sensação persistente de vazio.
É nesse ponto que a escuta psicanalítica se mostra potente. Não se trata de oferecer conselhos ou soluções rápidas. Mas de abrir um espaço onde esse mal-estar possa ser simbolizado, ganhar sentido, ser escutado além do sintoma.
A psicanálise aposta na fala como caminho para que o sujeito se encontre com aquilo que o habita. E nesse encontro, algo pode se transformar.